Aproveitamento do resíduo da farinha de guamirim (Myrcia oblongata DC.): prospecção de infusão rica em compostos fenólicos

Abstract

O Guamirim (Myrcia oblongata DC) é uma fruta nativa da Mata Atlântica ainda pouco explorada pela comunidade científica e em estágio inicial de comercialização por pequenos produtores da região dos Campos de Cima da Serra do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Em trabalhos anteriores, a sua composição fenólica foi elucidada e demonstrou a riqueza fenólica da fruta em diferentes classes desses compostos bioativos. No entanto, dada a sua perecibilidade e a necessidade de cadeia de frio para a sua comercialização na forma congelada, a elaboração de produtos desidratados surge como uma alternativa de baixa complexidade para a sua distribuição, bem como para o aproveitamento integral da fruta. Nesse contexto, o objetivo principal deste trabalho foi propor um produto enriquecido em compostos fenólicos a partir do Resíduo da Farinha de Guamirim (RFG). Inicialmente, o RFG foi caracterizado quanto a sua composição centesimal e propriedades físico-químicas. Posteriormente, ele foi empregado no preparo de infusão (95 ºC durante 15 min), a qual foi caracterizada físico-quimicamente e avaliada qualitativamente quanto a presença de compostos fenólicos através da técnica de cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massas de alta resolução (HPLC-DAD-ESI- qTOF-MS/MS). Os compostos fenólicos foram quantificados através do ensaio de capacidade redutora (método de Folin-Ciocalteu). O RFG pode ser caracterizado pela riqueza em carboidratos (85,4 % base seca), baixo teor de umidade (12, 9 % base úmida) e baixa atividade de água (0,5). A infusão apresentou coloração castanho-amarelada, pH de 4,8 e teor de sólidos solúveis de 2,0 ºBrix. Os compostos fenólicos majoritários encontrados na infusão foram o ácido galoilquínico, os derivados glicosilados da miricetina e da quercetina, elagitaninos, com destaque para a oenoteína B, e as antocianinas malvidina e peonidina nas suas formas di- glicosiladas, as quais contribuem para a coloração da bebida. A quantificação dos compostos fenólicos totais resultou em 143,5 mg EAG. 100 mL-1 de infusão, valor superior ao mencionado na literatura para infusões elaboradas com outras pequenas frutas conhecidamente ricas em compostos fenólicos. Os resultados obtidos demonstraram o potencial do RFG para consumo através do preparo de infusão e confirmaram a riqueza fenólica da bebida. Desta forma, representando uma alternativa para a comercialização da fruta sem a exigência de cadeia de frio e seu aproveitamento integral, contribuindo para a preservação da espécie e incentivando o seu consumo.

Guamirim (Myrcia oblongata DC) is a fruit native to the Atlantic Forest, still little explored by the scientific community and in the initial stage of commercialization by small producers in the Campos de Cima da Serra, region of Rio Grande do Sul state, Brazil. In previous studies, its phenolic composition was elucidated and demonstrated the fruit's phenolic richness in different classes of these bioactive compounds. However, given their perishability and the need for a cold chain for their sale in frozen form, the production of dehydrated products appears as a low- complexity alternative for their distribution, as well as the full use of the fruit. In this context, the main objective of this work was to propose a product enriched in phenolic compounds from Guamirim Flour Residue (GFR). Initially, GFR was characterized by its proximate composition and physicochemical properties. Then, it was used to prepare an infusion (95 ºC for 15 min), which was characterized physicochemically and qualitatively evaluated for the presence of phenolic compounds using the liquid chromatography technique coupled to high-resolution mass spectrometry (HPLC- DAD-ESI-qTOF-MS/MS). Phenolic compounds were quantified using the reducing capacity assay (Folin-Ciocalteu method). GFR can be characterized by its richness of carbohydrates (85.4% dry weight), low moisture content (12.9% fresh weight), and low water activity (0.5). The infusion presented a yellowish-brown color, pH around to 4.8, and total soluble solids of 2.0 ºBrix. The main phenolic compounds found in the infusion were galloylquinic acid, the glycosylated derivatives of myricetin and quercetin, ellagitannins, especially oenothein B, and the anthocyanins malvidin and peonidin in their di-glycosylated forms, which contribute to the color of the infusion. Quantification of total phenolic compounds resulted in 143.5 mg EAG. 100 mL-1 of infusion, a value higher than that mentioned in the literature for infusions made with other berries known to be rich in phenolic compounds. The results obtained demonstrated the potential of GFR for consumption through the preparation of infusion and confirmed the phenolic richness of the infusion. In this way, represents an alternative for the commercialization of the fruit without the requirement of a cold chain and its integral use, contributing to the preservation of the species and encouraging its consumption.